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segunda-feira, 6 de março de 2017

Mini-postagem de utilidade pública sobre depressão. (Leiam tudo)

Encontrei esse diamante na postagem da filha de um casal amigo. Não há como não replicar. Pedi licença, fui autorizado, e aí vai...

Resultado de imagem para depressão
Fonte da imagem: www.psicologosp.com
[Mentira, não é uma mini-postagem, é grande, muito grande, mas espero que seja útil às pessoas que tenham depressão, e às que têm que lidar com alguém que tem, também]
Vou falar um pouco sobre depressão, já que é uma doença que parece muito mais comum entre os meus amigos do que eu gostaria.
Nada de novo, é claro, porque se fosse um amigo só em depressão, já seria mais do que eu gostaria. Na verdade, nem amigo precisa ser. Uma pessoa já é mais do que eu gostaria.
Como algumas pessoas sabem e outras não, eu já tive depressão. "Tive", no passado mesmo. Vou reforçar isso pq eu sei, e muita gente sabe, que ela não é uma dessas viroses bobas, que você tem a certeza que vai passar em uma semana, e muita gente que eu conheço não teve, ainda, a sorte de falar dela como uma coisa que ficou no passado. Bom, mas a minha já se foi, e tanto que eu ando muito bem, muito feliz com a minha vida, motivada com a faculdade... alegre, mas preocupada com vários amigos meus. Não sou exatamente a pessoa mais empática do mundo, mas como já passei pela depressão eu consigo ao menos saber o quanto ela é horrível (mesmo que cada pessoa reaja a ela de modos diferentes).
Eu queria poder ajudar vocês. Eu QUERO ajudar vocês. O problema é que eu não sei a forma exata de fazer isso, e mesmo quando eu tenho alguma dica boa, a maior parte das pessoas não me escutam, ou não têm como seguir ela, já que a vida de cada um vai pra um rumo diferente. Então... vou fazer esse post, falar nele grande parte das coisas que eu acho que podem ser úteis pra vocês, já que foram ou teriam sido úteis pra mim. Também pode ser útil pra quem queira ajudar alguém em depressão.
A minha depressão durou, contando a parte mais crítica dela, que foi quando notei que tava doente, três anos. Isso foi mais ou menos dos 17 aos 20, e coincidiu com minha entrada na faculdade de arquitetura. Hoje, olhando pra trás, dá pra notar que eu já tinha alguns sinais dela desde os 14 anos, e que eu tive sinais dela até perto dos 22, mas antes dos 17 eu não identificava isso e depois dos 20, como eu tava saindo de algo horrível, eu achava que já tava curada, mesmo não estando ainda. A coisa é que, chegando perto dos 22 anos, quando realmente saí dela, ficou muito claro pra mim que eu tinha saído dela. Antes eu tinha dúvidas, e tinha medo de acabar voltando pra aquela tristeza a qualquer momento.
Não tenho mais.
Algumas notas aqui, agora, sobre o que eu aprendi com tudo isso:
Quando você está em depressão, sua maior prioridade tem que ser sair dela. Abrace qualquer oportunidade que tiver, tente tudo que for oferecido e puder te ajudar, nunca exclua uma possibilidade só por achar que não vai dar certo, e esteja sempre procurando um modo de sair dela. A depressão te garante anos horríveis e, na vida, tudo se resume a quão persistente você é. Claro, isso não significa que vai ser justo. Tem gente com mais sorte, e gente que vai receber mais ajuda, e por isso alguns precisam persistir menos e outros mais. Mas desistir de si mesmo nunca vai ser uma opção. O que todos querem, de verdade, é a felicidade... e a depressão faz algumas pessoas deixarem esse objetivo de lado. Bem, retomem ele. Quando o pesadelo acabar, vão se sentir orgulhosos, e espero que vejam, tanto quanto eu vejo hoje, que a visão que eu tinha de mim mesma na depressão era ridícula: eu me achava fraca.
Você não é fraco por ficar doente. Você é muito forte por resistir a ela. A doença é sorte, a resistência é você.
Outra coisa, se puder, procure um psicólogo. Não, não um psiquiatra. Procure primeiro o psicólogo e, se ele achar que é uma questão de procurar um psiquiatra, o que é bem provável, ele vai te dizer. Se começar com medicamentos, continue indo no psicólogo. Tem muita gente por aí vivendo de medicamentos, sem nunca se tratar de verdade, nunca realmente resolver o problema. Os remédios vão te fazer conseguir fazer as coisas que você precisa fazer, sair de casa quando precisar, e é basicamente isso. Ainda é uma vida muito ruim... a única parte boa deles é que eles vão te garantir um pouco de paz e força, que você deve, sem dúvida, usar em esforços pra acabar com a depressão de uma vez por todas. Sério, a depressão tá aí por um motivo. Não é um "ah, eu tenho depressão, preciso de remédio pra sempre, é isso aí, azar meu". Procure, por favor, o motivo dela estar aí, e trate ele.
Aliás, os motivos pra depressão podem ser muitos. Podem ser tantos que eu nem acho que conseguiria citar aqui todos os que eu conheço, e isso é um dos motivos de ser difícil tratar ela de verdade, e sair dela de verdade: você tem que descobrir o motivo da sua, e aí acabar com ele.
Pra vocês terem uma ideia, o meu motivo era falta de serotonina. Depois de ir em psicólogas (e aliás, não fiquem com os primeiros psicólogos que acharem se não se derem bem com eles... cada um é diferente, existem linhas diferentes que eles podem seguir, e essas primeiras psicólogas foram horríveis pra mim, mas mais tarde eu achei outra que me ajudou muito), psiquiatra, médicos de vários tipos, hipnose, procurar respostas em espiritualidade (e nessa época eu mal acreditava em qualquer coisa), fazer duas polissonografias e ir fazendo tudo que alguém achava que poderia me ajudar, eu acabei dando de cara com a nutrição funcional, que a minha mãe encontrou e leu sobre, e pensou que poderia ajudar.
Foi a única coisa que ajudou.
Você leu ali encima que eu fui ao psiquiatra, então deve ter suposto que eu cheguei a tomar remédios, e bom, realmente tomei; e sim, como sugeri ali, falando que só a nutrição me ajudou, eles não fizeram efeito. O psiquiatra trocou a dose deles algumas vezes, e trocou de remédios duas vezes, então testei três tipos, e nenhum fez diferença. Pra ser sincera, um deles fez algum efeito por três dias, depois parou. A questão é que muitos desses remédios têm a ver com impedir a recaptura de serotonina, o que faz ela fazer efeito por mais tempo, ou trabalha diretamente em aumentar a liberação de serotonina. Pra quem não sabe, ela é um neurotransmissor muito importante pra felicidade, e sem ela é difícil, talvez impossível, se manter alegre. Além disso, ela ajuda na regulagem do sono.
E aí, tantas tentativas depois, quem me ajudou e me tirou dessa coisa horrível foi uma nutricionista que trabalha com nutrição funcional. A partir dela, e depois de alguns exames de sangue (que, ao medir a serotonina, deram 'abaixo de' tal quantidade, o que significa que era algo tão baixo que o teste não tinha sensibilidade o suficiente pra medir o quanto de serotonina que tinha), deu pra notar que o meu corpo em si estava doente, principalmente meu intestino (onde é produzida quase toda a serotonina). Ela ajustou a minha alimentação. Foi uma mudança muito drástica. Descobri que eu era intolerante a glúten e leite, passei dois meses sem comer nada do que ela me proibiu, comendo de modo saudável. Eu não sabia se ia dar certo, ainda mais depois de tanta coisa ter falhado, mas era mais uma oportunidade, e eu tinha jurado pra mim mesma que ia tentar tudo que fosse possível pra melhorar.
E aí, no final de dois meses, eu comecei a melhorar.
Eu vivi três anos horríveis pra, no final, descobrir que eu só precisava comer direito. O difícil é achar qual é o motivo da sua depressão. Quando você acha, é só tratar.
Agora vem mais duas coisas: primeiro, mesmo que você ache que saiba o motivo da sua depressão, é provável que você não saiba; segundo, mesmo que você realmente saiba o motivo pra ela ter começado, ele provavelmente não é o motivo dela ter permanecido, e nem a única coisa a ser tratada, a essa altura.
Quando você está em depressão, e começa a sair dela, você é uma pessoa completamente diferente. A depressão muda as pessoas de um modo tão radical que só ela consegue. Você vai esquecer amigos que eram muito próximos a você, vai passar a odiar coisas que você amava, vão ter músicas que você adorava escutar todo dia e que agora vão te deixar profundamente triste, lugares que você nunca mais vai querer frequentar e, talvez, até mesmo a sua própria casa ou a casa dos seus amigos e familiares passem a guardar elementos e lembranças que te deixam profundamente mal. Talvez a sua faculdade ou a sua profissão passem a parecer um inferno. E aí, nesse ponto, você vai ter algumas opções: ou você resiste a isso até que esses sentimentos se desgastem e sejam substituídos por sentimentos novos, bons ou neutros, ou você foge de tudo que é ruim pra você e vai embora, mudando de amigos, de casa e de profissão, ou você procura tratamento psicológico. Todas essas opções funcionam, cada uma a seu preço.
O que eu quero dizer, então, é que eu comecei a melhorar quando tratei a causa da depressão, mas isso ainda não era o suficiente. Eu já tinha a possibilidade de ficar feliz, e em dois meses tinha melhorado muito, e continuei melhorando muito a cada mês, mas a depressão me marcou de um modo tão horrível que, sinceramente, eu nem sabia mais quem eu era de verdade. Por mais que eu pudesse ficar feliz, e eu ficava, eu tava perdida. As coisas que eu gostava de fazer me traziam sentimentos ruins. Eu me via como uma pessoa egoísta e triste, que é o que eu era durante a depressão, mesmo eu já não sendo mais assim... e quando eu percebi, um dia, que eu não era mais assim, e que muita coisa que eu pensava antes eu já não pensava mais, foi ainda pior: quem eu era, então? E eu fui tentar lembrar do que eu era antes da depressão, e fui percebendo que ela tinha dado seus sinais desde perto dos 14 anos. Nossa! Então, quando ela começou de verdade? Então eu sou o que eu era antes dela começar? Mas antes dela começar eu era uma criança, agora eu sou uma adulta! E aí, do nada, eu tive que começar a redescobrir quem eu era. Foi difícil, muito. Até que eu arrumei uma psicóloga ótima. E aí, finalmente, eu consegui organizar as minhas ideias... e nem demorou tanto, em seis meses, vendo ela uma vez por semana, eu já era outra pessoa. Uma pessoa nova, e a pessoa que eu realmente deveria ser. A verdade é que eu ainda não sei de tudo o que eu sou, mas isso eu acho que ninguém sabe. Foi difícil, mas não me decepcionei. Eu sou uma pessoa ótima, e que melhora a cada dia.
Mais uma coisa: eu achava, de início, que foi a faculdade que me fez entrar em depressão. Durante a depressão, eu fiz vários primeiros períodos de arquitetura. Eu não passava por causa de falta, eu não conseguia me levantar de manhã pra ir pra faculdade. Quando eu me forçava a ir, eu ia chorando de casa até lá, e às vezes não conseguia entrar na sala, então ficava chorando no banheiro. Depois, quando comecei a melhorar (e achei que já tava melhor, mas não tava), eu entrei em Cinema. Gostei mais de lá, mas ainda era difícil viver naquela época. Finalmente eu decidi que não valia a pena ficar tentando cursos aleatoriamente. Cinema era legal, eu gostava... mas eu realmente amo é jogos. E meu deus, como existe diferença entre fazer algo que você gosta e fazer algo que você ama! Eu não sabia que era tanta, mas é enorme. É muito maior que a diferença entre algo que você não gosta e algo que você gosta. Mas na época que resolvi que ia trabalhar com jogos, foi algo complicado. A depressão me deixou insegura. O único curso que eu realmente queria, Design de Games, não tinha em Minas Gerais. Eu ia precisar me mudar, e na época eu mal me sentia segura o suficiente pra chamar o garçom, ou pagar alguma coisa, e com muita dificuldade eu pegava ônibus. Foi aí que entrou a psicóloga que falei, e em seis meses eu tava pronta. Vir pra São Paulo pra fazer Design de Games foi a minha melhor escolha.
Claro, isso só foi possível pq minha família teve dinheiro pra isso, mas eu tinha outros planos caso eu não conseguisse vir, pra área de jogos também, e acredito que teriam dado tão certo quanto... e se não dessem? Eu tentaria outros. O importante mesmo, nessa parte da história, foi a psicóloga. mesmo assim, muita gente da minha família já teve depressão, e cada um por um motivo, e cada uma teve um fim diferente, com psiquiatra, psicólogos ou até mesmo sem ajuda externa. O importante é achar seu caminho, e pegar todos os atalhos possíveis... e isso significa aceitar toda a ajuda que oferecerem, e procurar ajuda. Vai ser muito mais fácil se puder ter ajuda de pessoas que queiram seu bem, e ainda mais fácil se puder procurar ajuda profissional.
E agora, pra finalizar, e espero que eu não tenha esquecido de nada, cuidado com o que a depressão vai te fazer pensar. Ela vai te fazer se sentir horrível, se sentir uma pessoa ruim, se sentir fraco, se sentir sozinho... mesmo que nada disso seja verdade. E o nosso cérebro, sempre com essa vontade incrível de ligar causa à consequência, vai tentar achar o motivo desses seus sentimentos, e quando ele não achar, ele vai criar motivos aleatórios; e aí, do nada, você vai começar a culpar a você e aos outros à sua volta, até mesmo pessoas que querem te ajudar, por coisas que não são culpa sua ou deles. Vai sentir que está sozinho pq ninguém liga pra você, vai se sentir horrível pq você é burro ou feio, vai se sentir fraco pq não consegue sair de casa enquanto todos conseguem. Se tiver como, quando se sentir assim, tente pensar se isso é verdade ou não. Você tá realmente sozinho, ou tem gente que mostra que quer te ajudar e que gosta de você? Lembre dos seus pontos positivos. Lembre também que a depressão é uma doença que leva seu sono, sua memória e sua concentração com ela, e te faz ter menos vontade de se cuidar. Você tem que se curar antes de exigir coisas complexas de si mesmo.
Mas tenho uma má notícia: quando você pensar nisso, e concluir que realmente não faz sentido o que você está sentido, não significa que você vai parar de sentir isso. Uma pessoa que você ama, e que ama você, pode ficar te fazendo companhia o dia inteiro, e é provável que, quando ela for embora, você já passe a se sentir sozinho e abandonado. Talvez até mesmo enquanto está do lado da pessoa você já se sinta assim. A depressão torna difícil que você se sinta amado, mesmo que te amem. É importante você saber disso, assim você pode evitar ferir pessoas em volta de você, culpando elas por coisas que não são culpa delas.
Finalizando, as pessoas também vão te ferir. Muito. Você está em um momento frágil, e não só as palavras vão te ferir mais, mas também as pessoas vão te dizer mais palavras pra te ferir, e isso tem vários motivos. Um deles, é claro, e é o mais clássico, pessoas que não gostam de você vão aproveitar sua fraqueza pra te fazer mal. Sim, isso acontece... mas isso não vai significar nem 1% das suas feridas por palavras, a menos que você literalmente esteja morando com quem te odeia (e cuidado, você pode achar que o caso é esse, e ele pode não ser, por causa justamente do que digo a seguir): as pessoas que mais vão te ferir vão ser as pessoas que querem te ajudar, pq além de doer mais quando é alguém que você gosta falando, essas pessoas vão ficar mais com você.
Muita gente quer te ajudar, mas não sabe o que é depressão, e não tem sensibilidade, ou vai ficar muito frustrada por não saber o que fazer. Essas pessoas vão brigar com você frequentemente, vão tentar te tirar de casa. Normalmente elas acham que, se você se forçar a fazer o que precisa fazer, você vai melhorar. Elas também têm medo que você continue desmotivado e estagnado por muito tempo, por isso vão insistir que você "faça alguma coisa da vida". Isso não significa que elas não gostam de você. Não significa, também, que sejam pessoas saudáveis pra você durante a sua depressão.
Muitas outras pessoas, também, e isso até as mais empáticas, vão brigar muito com você durante a depressão, reclamar que você não escuta elas, que elas tentam te ajudar e você não quer ser ajudado. Elas também vão, frequentemente, pedir desculpa depois disso, mas nem sempre. Isso vai acontecer muito, e vai acontecer principalmente pq pessoas em depressão são MUITO difíceis de se lidar com. Elas são instáveis, atacam os outros sem perceber, sem motivo, são grosseiras, e é extremamente frustante tentar ajudar alguém em depressão quando você não descobriu ainda qual tipo de ajuda vai funcionar pra essa pessoa. Pessoas em depressão também entendem errado até mesmo elogios, e conseguem transformar as mais diversas frases em ofensas para elas mesmas, e vão ficar chateadas, e hora ou outra isso vai irritar quem estiver em volta. Se a pessoa estiver muito próxima a você, e conviver com você todos os dias, isso significa, às vezes, meses da pessoa tentando ajudar, sendo atacada, vendo alguém que ela gosta chorar, e não conseguindo fazer nada quanto a isso. É comum que, às vezes, essas pessoas que te dão apoio estejam em dias ruins, ou já estejam muito frustradas, e acabem explodindo. Acredite, é muito difícil pra elas... e elas são muito especiais, mesmo assim. Como você sabe disso? Bom, a depressão é algo tão horrível que até a gente não se aguenta, até a gente quer fugir de nós mesmos, só não fazemos isso pq não tem como. É, mas essas pessoas podem fugir de vocês, só que elas não o fazem.
Por fim, desejo sucesso a todos vocês.
E quando tudo parecer difícil, e quando não tiverem motivação pra nada, se no mínimo puderem reunir forças pra uma coisa, que essa coisa seja a vontade de se curar. Nesse momento, ela é a única coisa que vocês precisam ter.
Carolina C. N.

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