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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Muita confusão sobre as consequências do "acidente" da SAMARCO/VALE/BHP BILLITON.

Metal pesado é um termo sobre o qual não existe um acordo ou definição química exata. Diversos elementos são encontrados em listas de metais pesados (incluindo alguns metaloides). Entre os mais comuns podemos citar Mercúrio, Chumbo, Cádmio, Cobre, Estanho, Níquel, Tálio, Cromo, Antimônio, Arsênio, Selênio e Telúrio. Outros como o Manganês, Zinco, Vanádio, Molibdênio, Cobalto e Estrôncio também costumam ser incluídos no grupo. Até mesmo o Ferro e o Alumínio podem ser citados como tal.
Essa confusão é um prato cheio para a SAMARCO/VALE/BHP BILLITON bater com força no peito e nos microfones e dizer: "em nossa barragem não há metais pesados!" Basta lembrar que, como não há um conceito exato, podemos adotar qualquer um que nos convenha.
Metais pesados como o Chumbo, Mercúrio e o Cádmio são extremamente danosos por não terem função alguma em nosso organismo e se concentrarem ao longo das cadeias alimentares (bioacumulação ou magnificação trófica) atingindo teores que provocam uma série de problemas que vão de neuropatias a disfunção renal e câncer.
Mas não são só metais pesados que são perigosos! Isso é fundamental que se saiba. Ferro e Manganês, sabidamente presentes nos rejeitos da SAMARCO/VALE/BHP BILLITON são nocivos ao nosso organismo. Ferro em excesso pode provocar hemocromatose (que envolve dor abdominal crônica, diabetes, manifestações cardíacas e dores articulares) e distúrbios no fígado que podem conduzir a uma forma de cirrose. Manganês em excesso provoca sintomas como rigidez muscular, tremores das mãos e fraqueza. Alumínio, outro elemento sabidamente presente na lama do "acidente" tem sido apontado como potencial causador de alterações do sistema nervoso.
Agora, lembremos dos outros organismos. Ferro, manganês e alumínio (dependendo da forma como se apresentam) são extremamente tóxicos para plantas quando em concentrações elevadas. Isso, claro, contraria a afirmação de Vania Somavilla (Diretora Executiva de Saúde e Sustentabilidade da VALE) que afirmou a potencial vantagem da lama do minério como adubo de reflorestamento, sugerindo que o "acidente" pode fazer bem para a recuperação das matas ciliares.
"A diretora da Vale que garante que os laudos analisados pela companhia não apontam quaisquer indícios de que há a presença de metais pesados: “pelo contrário, eventualmente o que é usado é uma espécie de fécula, que no momento de recuperação do rio Doce ainda servirá como adubo para o reflorestamento”." (www.eshoje.jor.br/)
Já o professor de Engenharia Costeira da COPPE/UFRJ, Paulo Rosman, autor de estudo encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente para avaliar os impactos e a extensão da chegada da lama ao mar, é bastante otimista. Para ele o Rio Doce "ressuscitará" em 5 meses, especialmente após o período de chuvas. Rosman afirma que os efeitos no mar serão "desprezíveis", que o material se espalhará por no máximo 9 km e que em poucos dias a coloração barrenta deve se dissipar. Infelizmente ele parece não estar levando em conta. Certas comparações feitas são inaceitáveis como a explosão do monte Santa Helena (1980, nos EUA) "você vai lá hoje e vê que os animais voltaram e a mata voltou" (esquecendo-se da diferença de biodiversidade das duas regiões - lá é basicamente uma floresta de pinheiros onde somados mamíferos de médio e grande porte e aves não dá mais do que 20 espécies) e a mortandade de peixes anual na Lagoa Rodrigo de Freitas - aliás uma lagoa extremamente contaminada - onde a diversidade dos peixes que resistem é baixíssima e os animais mortos têm todos praticamente um ano de vida e são quase todos da mesma espécie (basta olhar imagens, como abaixo).
Mortandade de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas em abril de 2015. Biodiversidade? Não há como comparar com o Rio Doce com cerca de 70 espécies endêmicas (que só existem ou existiam lá).
Prefiro ficar com a opinião do biólogo, ecólogo e meu ex-professor do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios da UFMG, Ricardo Motta Pinto Coelho. De acordo com ele “se nada for feito para recuperar o meio ambiente, a recomposição da vegetação (só da vegetação) poderá demorar de 20 a 30 anos. Os efeitos, no entanto, são imprevisíveis para a natureza. Há necessidade de estudos continuados por alguns anos para que todos os impactos causados pelo desastre possam ser mais bem avaliados e medidas de mitigação ou de remediação tomadas com o tempo”, afirma.
E continuemos aguardando análises exatas da lama, do rio, do mar, dos animais mortos...
Ramon Lamar de Oliveira Junior

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