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sábado, 3 de dezembro de 2011

Lá e aqui: matéria do Estado de Minas sobre a proteção das árvores em BH


(Leia a matéria completa e veja as imagens clicando AQUI). Trechos em negrito foram assinalados por mim.

Proteção ambiental não garante sobrevivência das árvores em BH

Apesar de estarem imunes ao corte, árvores tombadas pelo Conselho do Patrimônio de Belo Horizonte sofrem com o crescimento desordenado

Jefferson da Fonseca Coutinho – Estado de Minas – 03/12/2011
Há um tombamento do bem para as árvores de Belo Horizonte desde os anos 90. Trata-se da imunidade de corte, garantida pelo Conselho do Patrimônio, composto de forma paritária pela sociedade civil e pelo poder público. Salvas por deliberação ainda estão poucas dezenas: uma paineira, um ipê-branco, um pau-brasil, um jambo-do-pará, além dos conjuntos de pau-ferro e fícus das avenidas Barbacena e Bernardo Monteiro, e um largo de sapucaias, na Rua Gustavo da Silveira. Os critérios para proteção especial envolvem espécimes referenciais e necessidades particulares de cuidados.
Na listagem de bens tombados pela prefeitura consta ainda um jequitibá e uma copaíba, que não existem mais. No eixo da Rua Itaguaí, em frente ao número 441, no Bairro Caiçara, Região Noroeste, há apenas o toco seco da copaíba, que apodrecida, teve que ser cortada no ano passado. No canteiro central de 5 metros de comprimento, um jovem ipê-amarelo plantado por moradores cresce para assumir a sombra da colega morta.
A bióloga Mônica Meyer, membro do Conselho do Patrimônio, explica: “A árvore é um ser vivo. E como todo ser vivo tem um ciclo de vida. A questão é outra. É em que condições estamos permitindo que nossas árvores envelheçam”, considera. O jequitibá estava oco, infestado de cupins. O que não surpreende a doutora: “Não existem mais quintais na cidade. Onde estão os pássaros? Tudo é uma questão de equilíbrio. As pragas também se movimentam em busca de espaço. Está aí o resultado”, alerta.
Aos pés do toco, uma placa com verso do poeta Adilson Dias: “Existia uma fazenda onde o verde era um amor. A cidade cresceu e a população aumentou. Apareceram as ruas, surgiram as casas e a fazenda acabou. E no meio de uma rua uma árvore ficou”. É o próprio poeta, de 53 anos, morador do Caiçara desde 1974, quem fala da perda de sua musa inspiradora.
“Tive um aperto no coração, uma sensação muito ruim.. Ela estava oca e não teve salvação. A presença do ipê é o que reduz um pouco a nossa dor.” Mateus Guerra, de 37, cabeleireiro, dono de salão movimentado próximo ao que sobrou da velha copaíba, conta que o ipê foi plantado em homenagem à “antiga moradora” antes mesmo de sua supressão. Nascido e criado no bairro, Mateus entende que o poder público precisa de mais estrutura para cuidar melhor desse patrimônio. Seu Francisco, aposentado, passante, quer participar: “É desse tombamento que as árvores da cidade estão precisando. A natureza é o nosso maior patrimônio”, considera.

O peso das águas
A tarde avança. O céu escurece e deságua pesado. Os pássaros se protegem sob as folhas graúdas do jambeiro na Rua Espírito Santo, em frente ao número 846, na Região Central. No encontro com Rua dos Tupis o aguaceiro alaga a esquina e encharca os pedestres que se atrevem a deixar a marquise. Vizinha de poste e semáforo, o espécime tombado, exuberante, de copa frondosa e cerca de 30 metros de altura, se destaca na calçada.
No entorno, restos de seus frutos avermelhados giram na enxurrada e somem no bueiro. Adriano Pereira Gomes, de 30, auxiliar administrativo, aguarda uma trégua da chuva. Fica satisfeito ao saber que o pé de jambo-do-pará é tombado e diz que a medida de precaução é importante, mas, consciencioso, chama a atenção para a importância de cuidados ainda maiores com o verde em Belo Horizonte.
“No período de chuvas, as árvores ficam pesadas e muitas, infelizmente, não aguentam. Tem ainda a questão da construção civil, que tem maltratado muito as árvores da cidade. Muitas raízes são cortadas pelas perfurações para dar espaço para diversas tubulações e, com isso, os troncos acabam ficando comprometidos”, alerta. Apesar da chuva, o trânsito flui – caso raro em dia de semana na Avenida Afonso Pena. Na altura do número 2.777, no Bairro Funcionários, outro bem de folhas tombado. Um ipê-branco inclinado para a Rua Piauí.
Parte de suas raízes parecem querer rasgar o concreto em busca de espaço. A poucos metros dali, muita gente aguarda o lotação. Alguns observam o movimento em torno da árvore antiga. “Vão derrubar, é?” Quer saber a mocinha de cabelo longo, trançado. “É tanta árvore que está sendo cortada que a gente nunca sabe”, justifica.
Celso Antônio Menezes, de 51, vendedor, aponta para brecha, segundo ele, infestada de cupins. Com a chuva, não é possível ver a praga. “As árvores da cidade carecem de mais cuidado. O tombamento é importante, só que, para valer, tem que haver maior controle”, diz. Celso, que mora em casa da Região de Venda Nova, é chegado numa árvore. Tanto que trouxe duas castanheiras de Guarapari para fazer sombra na sua rua.

Um futuro sombrio
Não é se afastar do assunto recorrer a Albert Camus (1913-1960) para falar do futuro da cidade. Em A peste, logo em página de entrada, o escritor e filósofo argelino, Prêmio Nobel de Literatura, escreveu: “Como imaginar, por exemplo, uma cidade sem pombos, sem árvores e sem jardins, onde não se encontra o rumor de asas, nem o sussurro de folhas. Em resumo: um lugar neutro. Apenas no céu se lê a mudança das estações. A primavera só se anuncia pela qualidade do ar ou pelas cestas de flores que os pequenos vendedores trazem dos subúrbios: é uma primavera que se vende nos mercados”.
O trecho se desenha fácil no alinhavo da matéria. Ainda mais depois de percorrer árvores tombadas pelo Conselho do Patrimônio de Belo Horizonte na companhia da bióloga Mônica Meyer. A professora, há anos em defesa dos seres vivos, ao mesmo tempo que se entusiasma com o inventário das árvores – em fase de levantamento pelo poder público –, vê com pessimismo o tempo que se aproxima. “Há em BH uma ocupação que despreza a paisagem. Com isso a cidade está se tornando cada vez mais árida”, lamenta.
Na listagem de bens tombados da PBH, um Jequitibá, no Bairro Luxemburgo. Só no papel. Assim como a copaíba do Bairro Caiçara, a árvore que não existe mais. Na Rua Guaicuí, nas proximidades do número 816, dois irmãos, moradores de prédio vizinho dão a notícia: “Ele caiu em 6 de dezembro de 2010. Era umas 7h”, diz a advogada Corina Rodarte, de 25. “Caiu em cima de um carro. Ficou atravessado na rua que não dava para passar uma moto”, afirma Felipe Rodarte, estudante. Uma pena. A bióloga lamenta: “Puxa! Que pena. Devia ter uns 40 metros”, calcula, ao medir a largura da rua.
Mônica reage com espanto em novo endereço, diante do que resta da paineira da Rua Bernardo Guimarães, em frente ao número 2.669, no Bairro Santo Agostinho. Na esquina, um vigia comenta ao perceber o susto da professora: “Estão fazendo de tudo para salvar a árvore, coitada”. A placa indica: “Patrimônio Cultural de Belo Horizonte”. No entorno do tronco com mais de metro de diâmetro rosas, camélias, beijinhos, camarão, camélias e azaleias. “Está parecendo um canteiro fúnebre”, comenta a bióloga.
No alto do tronco mutilado, apenas um galho magro, firme, resiste bravamente à ação dos cupins. “A cidade é um espelho de nosso comportamento social e cultural. As construtoras estão mandando em Belo Horizonte. Há uma subversão violenta do uso do solo justificada pela falsa ideia de progresso”, denuncia. Para a ambientalista, em pouco tempo, vamos ter na cidade apenas aqueles pássaros artificiais que precisam de palmas para abrir o bico.

ÁRVORES TOMBADAS
– Paineira (Chorisia crispiflora - família Bombacaceae) – Rua Bernardo Guimarães, nº 2.669, esquina com Rua Mato Grosso, Bairro Santo Agostinho
– Caminho das árvores e Largo de Sapucaias em frente ao Museu de História Natural da UFMG – Rua Gustavo da Silveira (trecho de cerca de 500 metros a partir do nº 1.074 até o nº 1.580, Bairro Santa Inês)
– Ipê-Branco (Tabebuia odontodiscus - família Bignoniaceae) – Av. Afonso Pena nº 2.777, Centro
– Pau-brasil (Caesalpinia echinata - família Leguminosae) – Rua Rodrigues Caldas n.° 30, Assembléia Legislativa, voltada para a Praça Carlos Chagas
– Jambo-do-pará (Syzygium malaccensis - família Myrtaceae) – Rua Espírito Santo em frente ao nº 846, Centro
– Arborização da Avenida Barbacena
– Arborização da Avenida Bernardo Monteiro

ENQUANTO ISSO... ÁRVORE CIMENTADA
Uma árvore na Avenida Cristóvão Colombo, nº520, na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, teve toda sua base cimentada, impedimento a passagem de água até as raízes. Para completar o desrespeito, o cidadão pintou o tronco da planta de verde. A equipe de Jardins e Áreas Verdes da Regional Centro-Sul informou que vai retirar o cimento da raiz da árvore. Resta saber o que irá acontecer com o infrator.

ANÁLISE DA NOTÍCIA
Poda preventiva vira mutilação (por Andréa Castello Branco)
Se Belo Horizonte tem uma centena de árvores protegidas e preservadas, outras milhares estão sendo suprimidas da paisagem da cidade. O início das chuvas parece dar a largada para uma verdadeira temporada de “caça às árvores”: diariamente é possível cruzar com caminhões carregados de galhos. O que deveria ser uma poda preventiva se transforma numa mutilação que deixa as espécimes em total desequilíbrio. Oficialmente, as árvores permanecem de pé, só não sabemos quantas ventanias irão suportar antes de vir ao chão e engrossar a lastimável estatística de 11.322 espécimes derrubadas desde o início de outubro.

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